terça-feira, 22 de junho de 2010

Mark Rowlands - "O filósofo e o lobo"


























Nasceu no país de Gales, frequentou um curso de engenharia e queria ser surfista profissional. Acabou por doutorar-se em Filosofia, andar de país em país por escolha própria e escrever livros dedicados ao estatuto moral dos animais.
Filho de um polícia e de uma professora, Mark Rowlands, 47 anos, o docente universitário viveu dos 27 aos 38 anos com um lobo. Esta jornada levou-o a tecer algumas considerações acerca da natureza humana.
Esta experiência levou-o a investigar o lado obscuro dos atributos vulgarmente associados à nossa superioridade sobre os outros animais: a inteligência, a moral e a consciência de que somos mortais. O que nos distingue enquanto espécie não abona a nosso favor.
Como fundamenta no seu livro, a raiz da inteligência assenta na capacidade de enganar e manipular; a moral alicerça-se no poder e na mentira; a consciência de que vamos morrer leva-nos a tomar decisões duvidosas como lutar e ter sucesso para dar um sentido à vida, o que nos torna infelizes. Criou-se a ideia de que o mau da fita é o lobo porque em tempos remotos eles competiam com os humanos por alimentos. A nossa espécie trilhou um caminho evolutivo discutível e gosta de usar a metáfora dos nossos dois lados, o primata e o lupino. O macaco faz tudo para ter poder e chegar ao topo, sendo capaz de premeditar, fazer alianças, manipular e dissimular. O lobo equivale à parte de nós que olha para essas questões com desprezo. O autor gosta da sua faceta de lobo, mas detesta a outra.
E como gere essa faceta na sua vida diária ... Talvez tentando manter as coisas em perspectiva porque uma vida assente no conceito de sucesso não compensa. Talvez a felicidade não seja isso, mas antes o fazer coisas boas, ser uma pessoa boa. E mesmo a inteligência, por mais útil que seja, pode ser usada para coisas terríveis, como a extinção de outras espécies.
Em relação a críticas feitas a colegas por causa do abuso em animais, refiro-me a experiências feitas nos anos cinquenta e replicadas durante décadas, envolvendo tortura animal. Colocavam, por exemplo, cães numa jaula electrificada com uma barreira que ia subindo até ao ponto de a cobaia não poder transpô-la. Os bichos agonizavam, defecavam e urinavam sem controlo, até desistirem. A ideia era mostrar que o desespero humano podia ser aprendido. Tais experiências fizeram as carreiras de investigadores de Harvard, mas não beneficiaram ninguém até hoje.
Depois da morte de Brenin, o lobo, quando a vida me corre mal, e às vezes corre mesmo, lembro-me sempre dele, transmitindo a sua força e calma nas situações mais adversas, sem recuar ou desistir.
Houve alturas da minha vida em que me sentia como um lobo. Hoje tornei-me mais suave e paciente. Em muitos aspectos sou uma pessoa melhor, mais tolerante e capaz de perdoar.
Quanto à sociedade actual acho que somos impacientes por natureza.
Até que ponto estamos dispostos a fazer sacrifícios é a questão central. De momento isso não é evidente: continuamos a andar de carro, a assistir a derrames de petróleo, ao aquecimento global. O acordo de Copenhague foi uma piada, as mudanças de atitude são irrisórias e as consequências dramáticas.
O que se passa com os lobos é um bom indicador disso. Na América dizem que tencionam reintroduzi-los, mas logo que existam algumas centenas tencionam voltar a matá-los. E porquê? Porque matam os veados e os alces e os caçadores querem ter esse direito em primeira mão.

4 comentários:

  1. Parabéns pelo blog e pelos textos publicados!

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  2. Obrigada pelo apoio moral !!! Fico contente.
    Margarida

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  3. Bah , que grande burrice

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  4. Acabei de ler " O Filósofo e o Lobo ". Estou impactado pela narrativa que ao meu entender é um estranho e instigante romance filosófico.
    Bacana encontrar este Blog, onde, penso, alguns símios não precisam sentir-se superiores aos outros animais e ao mesmo tempo pensar ou repensar o status de sua condição "humana". Leão

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