terça-feira, 6 de abril de 2010

O fácil e o difícil




É fácil fazer festas a um gato. É difícil conquistar um gato arisco e medroso ou ter um gato que se esconde atrás dum sofá ou dum armário. É fácil ver um gatinho brincar e rir das suas piruetas e tolices. É difícil quando um gatinho a brincar nos parte um bibelot ou estraga as nossas cortinas preferidas. É fácil acariciar o pêlo macio e bem cheiroso dum gato limpo e bem tratado. É difícil sentir o cheiro do caixote do gato. É fácil ter um gato em casa à nossa espera. É difícil (e muitas vezes caro) ter de levar um gato ao veterinário, por vezes com regularidade. É fácil pôr comida e água ao gato e esperar que ele coma. É difícil ter de alimentar um gato doente à seringa, ou experimentar várias rações até acertar com a certa para um gato esquisito. É fácil dar petiscos ao gato. É difícil dar-lhe comprimidos, dar-lhe o desparasitante ou as vacinas, ou medicação cara a um gato doente. É fácil dar restos da nossa comida ao gato. É difícil gastar dinheiro numa comida própria para ele e ter de a comprar com regularidade. É fácil chegar a casa cansado depois dum dia de trabalho, sentar-se no sofá e ver televisão com o gato no colo. É difícil chegar a casa cansado depois dum dia de trabalho e aperceber-se que tem de limpar o caixote do gato, ou que o gato vomitou no chão (ou no sofá, ou na cama) e que tem de limpar. É fácil ir de férias ou de fim de semana e deixar o gato sozinho com comida e água. É difícil levar o gato ou arranjar quem vá todos os dias fazer-lhe companhia. É fácil (para muita gente) afogar gatinhos recém nascidos. É difícil (e caro) esterilizar os animais. É fácil tomar a decisão de ter um gato. É difícil ter de decidir que a vida com qualidade de um animal chegou ao fim, devido a doença, e vê-lo partir. É fácil ter o nosso amigo à nossa espera em casa. É difícil lidar com a perda dum animal que foi nosso amigo durante muitos anos. É fácil ver um animal na rua em apuros, olhar para o outro lado e passar adiante. É difícil parar, recolher o animal e ajudá-lo.
É fácil passar adiante e avisar outros para que o vão lá recolher e ajudar, com a consciência tranquila por já termos feito a nossa parte. É difícil assumir que ajudar um animal também é nossa responsabilidade, e não apenas dos outros (que muitas vezes têm as mesmas dificuldades que nós). É fácil recolher um animal e entregá-lo a alguém para que cuide dele. É difícil assumir essa responsabilidade, gastar dinheiro e energia com o animal e cuidar dele como se fosse nosso. É fácil desistir quando as coisas se tornam difíceis e colocar o gato na rua ou despachá-lo para outras pessoas. É difícil assumir que as dificuldades fazem parte da relação com um animal e assumir essa relação até ao fim da sua vida.
Não se pretende que se assustem com este texto, ou achem que ter animais é sempre difícil. Pretende-se apenas que tomem consciência que as coisas nunca são apenas fáceis, mas às vezes são difíceis, e por vezes muito difíceis. Todas as decisões que involvam animais devem ser tomadas com isso em mente, porque um animal é um ser vivo. Mas como já muita gente descobriu, quando algo é difícil é muito mais compensador do que quando é muito fácil. E frequentemente o que é difícil ou caro é o mais acertado (como esterilizar os animais, para evitar ninhadas indesejadas, ou vacinar os animais para os manter saudáveis).

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